sábado, dezembro 11, 2010

UM CRUZEIRO QUE PAULO NÃO RECOMENDARIA

Estava em viagem quando surgiu a notícia do Cruzeiro marítimo sob os "auspícios espiritual" do grupo lagoinense Diante do Trono. Só esta semana pude me interar melhor do fato lendo as notícias passadas, que a essa altura já viraram história.

Nada contra alguém fazer um cruzeiro marítimo. Tendo condições, não vejo impecílio em nao fazê-lo. Condená-lo simplesmente por ser um tipo diferente do entretenimento usual, onde a grande maioria nao dispõem de recursos para tal, convenhamos, é despeito para com os que podem realizá-lo. 

Deste modo, participar de um cruzeiro marítimo além de exigir uma boa condição financeira requer também e, principalmente, a motivação para isso.

Sobre essa questão quero abordar o Cruzeiro lagoinense.

Aqui nos Estados Unidos, como também na Europa e em outros lugares, é comum companhias fazerem isto. Grupos ou igrejas inteiras tiram períodos para navegarem no mar, a bordo de um luxuoso navio, motivados a desfrutar das benesses e infra-estrutura que um Cruzeiro deste oferece.   

Com respeito ao Cruzeiro, não o da toca da raposa, mas o da lagoinha, cujo grupo musical Diante do Trono patrocinou, o questionável é sobre as motivacoes que levaram Ana Paula e sua troupe a fazê-lo.

Quais foram as razões que motivaram a realização de um Cruzeiro com o grupo Diante do Trono? E a própria Ana Paula Valadão que responde em sua declaração, através do seu blog. Vamos a elas, uma por uma.

Primeira - "...varias vezes perguntava ao senhor sobre o propósito desta experiência tão nova e diferente de tudo o que já vivemos até hoje".

Dá-nos a entender que Ana, em oração, perguntava ao Senhor qual o propósito dessa nova experiência. Experiência? Ora, que experiência é esta? Seria necessário incomodar o Senhor sobre isso? Onde está aqui a real motivação para o Cruzeiro?

Experiência nova com Deus seria embarcar em um Catamarã e navegar nas águas doces  do Rio Amazonas e afluentes para ali pregar o evangelho de Cristo as populações ribeirinhas, sofridas e necessitadas da palavra de Deus. Neste barco em que estaria toda a parafernália do Diante do Trono, estaria também toneladas de alimentos, brinquedos, roupas e sapatos, os quais, certamente seriam atrativos para a evangelização dessas gentes, nessa época do ano.

Já imaginaram como ficaria o coração daquelas gentes quando ouvissem, pessoalmente, cantar Ana Paula, as canções: "Águas Purificadoras", " Preciso de Ti" ou ainda "Te agradeço"?

Já imaginaram que poder seria emanado dos céus num trabalho dessa espécie? Pessoas descalças, banguelas, famintas e desiludidas da vida, ouvindo, não um CD, mas o próprio Diante do Trono, ao vivo, sendo alcançadas pelo poder da palavra de Deus através da música?

Isso sim seria uma  experiência nova e marcante.

O evangelho contraria a lógica humana. Se dependesse dos discípulos Jesus jamais entraria em Samaria. Mas Ele entrou e porquê. Porquê havia uma motivação - necessá rio era entrar em Samaria. Motivações que não levam a Samaria é pura vaidade.

Segunda - "... Mas quando a proposta surgiu, orei e senti que era um propósito de Deus".

Aqui há uma contradição. Se no início Ana diz que orou a Deus perguntando qual era o propósito, nesta segunda declaração ela afirma que ao receber a proposta(de alguém ou do Espírito Santo?) sentiu que era um propósito de Deus. Confuso não? E mais confusão vem a seguir quando explica que "...muitas das suas questões vinham de acusações e questionamentos de outras pessoas que me perguntavam a razão de fazer uma iniciativa ministerial que não alcançava os pobres".

Ora, está claro que o propósito não era alcançar os pobres e como justificativa Ana declara que "Apesar de eu crer e estar vendo Deus provendo miraculosamente para pessoas que jamais imaginavam viajar em um navio".  Desculpe, mas isso é jogar com a sorte das pessoas.

Terceira - "... a resposta a essas inquetações veio no próprio testemunho de Jesus. Ele estava com o pobre, mas também com o rico. Ele entrou na casa de Zaqueu, que era rico. De simão, outro rico. E de mulheres ricas O seguiam e sustentavam seu ministério, de acordo com Lucas 8.3".  

Ana é conhecedora da palavra de Deus pois fez curso de teologia. Justificar o propósito do Cruzeiro declarando que Jesus entrou no lar do rico Zaqueu, que foi sustentado por mulheres ricas e  que esteve na casa de um rico Simão, é adequar um texto bíblico para fortalecer e justificar argumentos pessoais. Isso é embaraçoso. A Bíblia diz que: "....percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo" (Mt 9.35).

O Senhor nunca escolheu a quem levar o evangelho. Nunca fez opção por classe "A"ou "B". Jamais aceitou proposta para beneficiar um(pobre) ou outro(rico), pois sabia que todos eram "... ovelhas perdidas da casa de Israel".

Os gastos que o cruzeiro teve não seriam melhor empregados numa missão a algum país da África? Quem sabe aquele mais pobre, como o Níger, onde so existe um rio em todo o país?

Quarta - "Mas o principal motivo pelo qual escrevo é para compartilhar o que o Senhor ministrou ao meu coração em um momento marcante ali na Finlândia acerca do Cruzeiro...  Quando comecei a orar pelo Cruzeiro ouvi o Senhor claramente nos dizer: "Seus bobinhos! Seus bobinhos! Unjam os mares! As praias são minhas! As praias são minhas!".

Bom! Agora, chega-se, acredito, ao principal motivo ou motivação para que o Cruzeiro zarpasse, segundo Ana. Aconteceu num culto na Finlândia onde o Senhor lhe revelara que o propósito do Cruzeiro era ungir os mares e praias. Antes era a evangelização dos ricos através do Cruzeiro, mas esta, creio,  morreu afogada. 

Curioso são as palavras que descreve Ana como sendo de Deus, assim como "...sua voz era tão poderosa, como um trovão dentro de mim, e eu temi e tremi". Mais espantoso ainda é o coloquial que usa o Senhor para chegar até Ana: "Bobinhos! Bobinhos!.....". 

Deus tem todo poder para se fazer entender a nós mortais da forma como Ele quiser. Estudando o livro de Apocalipse entende-se que o autor emprega alegorias no objetivo de determinar um efeito na interpretação do texto. Jesus encarnou em matéria humana para nos fazer reconhcer Deus conosco - o Emanuel.  Deus se utilizou destes e outros recursos para fazer chegar até nós sua vontade. Mesmo pelo relato bíblico vemos a divindade se aproximar do homem com falas, métodos e maneiras diversas. E em nenhum delas deixa transparecer banalidade ou vulgaridade. Pelo contrário, da forma como fala conosco, seus servos, vê-se a diferença que é ser o Deus Todo-Poderoso.

Agora, aceitar que "Bobinhos! Bobinhos! foi o unico recurso que dispunha Deus para fazer entender a Ana os seus propósito é demais para a espiritualidade de qalquer um. 

Alguém já procurou saber nos melhores dicionários o significado da palavra "bobinhos". Se procurar não vai encontrar pois essa palavra não existe no dicionário. Ela vem procedida da palavra "bobo", que traduz o seguinte: 

Como nome masculino - Indivíduo, geralmente disforme ou ridículo, que divertia os prícipes e os nobres com suas graças, zombarias e esgares; truão, bufão; Como adjetivo - parvo, estúpido.

Será cristão conceber que o Senhor usou esta expressão tão chula para se fazer entender a Ana? O que essa serva tem de mais ou de menos que a fez merecer este linguajar? Será Bíblico admitir que o criador de todas as coisas usou um termo, no nosso idioma, tão baixo, para responder "... o impulso de interceder.... por todos os projetos e desafios, e sonhos ministeriais..." de Ana, tão nobre como estes?

Quinta - "A uncao com oleo, nas escrituras, sempre foi usada para consagrar, dedicar ao Senhor, santificar para Ele objetos que serviriam para seu culto, pessoas separadas para serví-lo, como os sacerdotes, levitas. A Bíblia até mesmo nos instrui a ungir os doentes para que sejam curados. Com esse entendimento, ungiremos os mares e as praias do Brasil"  



Seria mesmo necessário ungir os mares e praias? E para quê?

Ana deve entender que no Antigo Testamento quando um objeto ou uma pessoa(sacerdote no caso) recebiam a unção com o derramar de óleo, por conseguinte , consagrar este objeto ou pessoa ao Senhor, significava que estavam separados para uso exclusivo do trabalho de Deus, nunca para uma atividade secular. 

Argumentar que ao ungir praias e mares é patentear os mesmos para Deus é pura meninice pois os mesmos nunca sairam do seu domínio e poder do criador. Com unção ou sem unção os mares vão continuar sendo poluídos. Também continuarão a ser um instrumento usado por Deus para beneficiar o homem através do petróleo, pesca e transporte. Com unção ou sem unção as praias continuarão a ser locais de festas mundanas, nudismo, prostituição e para uso de drogas. Também para passeios e recreios. Com unção ou sem unção, as praias e os mares serão do Senhor pois nunca deixaram de ser: " Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam" (Sl 24.1).

Não posso terminar sem citar um Cruzeiro, não tao famoso como o lagoinense do Diante do trono, mas muito eficaz na evangelização e salvação de almas. O capítulo 17 do livro de Atos conta com riquezas de detalhes sobre este Cruzeiro

Nele, havia um homem que não cantava mas pregava e ensinava com autoridade. Muito usado por Deus, participava do Cruzeiro não para satisfação pessoal ou descontração, pois era prisioneiro por fazer a vontade do Pai.

Mesmo aprisionado, sua conduta no barco  era de esperança e convicção no seu Deus, ainda que os ventos lhes fossem contrários. No entanto, sabia, por fé, que o Espírito Santo o levaria a Bons Portos. Comer e beber, ainda que feitos para a glória de Deus, foi anormal nesta viagem pois não dispensava um jejum o prato ideal do menu da consagração. 

Mesmo sem ser marinheiro, entendeu que o Cruzeiro do qual participava, faria uma navegação dificil e incômoda, tanto para o navio, carga e vida das pessoas. Recebia oposição por isso. Mas continuou firme no propósito. Deus tinha algo a realizar.

O forte vento trouxe agitação ao mar fazendo o navio ir a deriva trazendo desespero e aflição a todos. E, não aparecendo, havia já muitos dias, nem sol nem estrelas, e caindo sobre eles uma não pequena tempestade, fugiu-lhes toda a esperança de serem salvos. Foi quando nesta hora Paulo declara a todos na embarcação que ninguém havia de se perder porque um anjo de Deus, esteve com ele, declarando ser importante ele ser apresentado a Cesar e que a todos que ali estavam Deus lhe dera. No final, tudo o que Paulo tinha dito ao povo do Cruzeiro aconteceu, literalmente.

Uma coisa nos chama atenção para este Cruzeiro de Paulo. 

Não se ouviu banalidades sobre a revelação de Deus para ele. Não se soube que quis ungir mares e praias ou coisa parecida. Não se soube que o apóstolo dos gentios declarou ser as praias e os mares, por onde navegou, usou de algum artifício para retomá-los e devolvê-los ao Senhor. Não se ouviu sua voz perguntar a Deus sobre o propósito do Cruzeiro visto que Paulo andava no Espírito e, portanto, em todo o tempo e lugar era sensível a voz do Espírito de Deus. 

Certamente o Cruzeiro da lagoinha não seria recomendado por Paulo.

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