Sargento Sammy Adler, USMC, agachou-se profundamente na lama da selva vietnamita à menos de um quilômetro da fronteira com o Laos. Os vietnamitas haviam contrabandeado quantidades maciça de armamentos para o sul do Vietnã por meio do Laos. Sua missão era fazer uma emboscada para os traficantes, apreender o carregamento de armas, e capturar o máximo de pessoas que pudesse para um interrogatório.
Um mosquito irritante zumbiu no ouvido de Sammy, e uma sanguessuga mordeu um pouco seu pulso. Ele não se atreveu a bater-se, pois o menor ruído poderia revelar sua posição para uma emboscada inimiga. A missão, portanto, pediu silêncio de rádio, que obrigou os três pelotões da Companhia C a manter o contato visual, um com o outro.
Uma névoa pesada do amanhecer desceu sobre a floresta. A neblina era tão espessa que Sammy mal viu o capitão John Willis, o comandante da companhia, a uma distância de três pés (mais ou menos um metro). Willis rabiscou uma nota e passou-a para Sammy: "Pelotão B, 0800, leste verde".
Sammy olhou para o relógio e balançou a cabeça em um sinal de compreensão. Suas ordens eram para rastejar até o Pelotão B, cem metros à direita, e informar ao líder do pelotão que, exatamente as oito horas da manhã, todos os três pelotões deixariam sua posição atual e se aproximariam da fronteira de Laos pelo lado leste deles.
Sammy deslizou centímetro por centímetro na lama. Sua vida dependia de seu silêncio absoluto. Ele olhou para o relógio novamente – cinco minutos depois das sete. Ele respirou fundo e continuou, primeiro um cotovelo, depois um joelho, o outro cotovelo, e depois o outro joelho. Ele parou em sua trilha: um objeto arredondado, marrom, do tamanho e a forma exato de uma mina estavam bem diante do seu nariz.
A "mina", nada menos que uma tartaruga, colocou a cabeça para fora e riu na cara do Sammy e, em seguida, saiu rastejando indiferente. Ele exalou profundamente e continuou na direção do pelotão B.
Quarenta e cinco minutos tinham se passado. Sammy, limpado a lama da face de seu relógio, viu que horas eram – dez minutos para as oito. O nevoeiro levantou, mas uma forte chuva encharcava a selva já saturada.
Ao longo da aparentemente interminável distância de cem metros para a posição do Pelotão B, Sammy manteve seu ritmo de rastejar. Ele contou quatrocentos movimentos, de nove centímetros cada um, o equivalente a cem metros. Ele deveria ter chego ao Pelotão B até então, mas não via nada além de lama e mato.
Um minuto antes das oito: Sammy pensou: “que bagunça”. Em sessenta segundos, os Pelotões A e C estarão se movendo ao leste, e Pelotão B ainda não foi informado. Onde na luz do dia está o Pelotão B? Onde diabos eu estou?
“Chikachikachik! Chikachikachik!” A língua bifurcada da cobra quase tocava o nariz de Sammy. A cobra rosnou, expondo as suas duas presas mortais, e se preparou para uma posição de ataque.
Sammy congelou – ele pensou que as batidas de seu pulso com certeza poderiam ser ouvido a quilômetros de distância. Em uma fração de segundo, ele visualizou toda a sua vida passando diante de seus olhos. Que maneira patética de ir, lamentou, morto por uma cobra no meio da sujeira e da lama de uma selva vietnamita, 10 mil milhas de casa. Ele não poderia pedir à cobra a suspensão da execução até que ele tivesse a oportunidade de enviar um cartão postal para mamãe e papai.
A arma, M-16, de Sammy estava em um silêncio fútil ao lado dele. A faca de comando ficou ociosa em sua bainha, tal como as três granadas em seu cinto de munição. Ele não se atreveu a mover um único músculo. Gotas de suor salgado da testa atravessaram a sobrancelha direita, escorreram e caíram em seu olho direito. Enxugar a testa estava fora de questão.
A escola de sobrevivência na selva lhe ensinou que só uma estátua de bronze sobrevive a um encontro com uma cobra enfurecida. “Eu sou uma estátua de bronze, Sammy pensou consigo mesmo, eu sou uma estátua de bronze”.
"Chikachikachik! Chikachikachik!" a cobra continuava com a cabeça inclinada em posição de ataque. A cobra parecia travar- se, só sua língua se lançava periodicamente para lá e para cá.
A cobra era enorme – oito ou talvez nove metros de comprimento e pelo menos dez centímetros de espessura. Mantinha contato visual direto com Sammy. Uma hora inteira passou, e depois outra hora.
Eventualmente, a chuva parou e o céu ficou limpo. O sol estava no topo das árvores diretamente acima, indicando que era aproximadamente meio-dia. Sammy ouviu o som de metralhadoras e os estrondos das bombas de morteiro à distância. A cobra não deixava Sammy se mexer; quatro horas já tinham se passado, estava todo dolorido e segurava exausto o Marine.
Todos os músculos do corpo de Sammy gritavam de dor. Seu pescoço estava tão duro como o granito, o seu uniforme, encharcado, e a umidade do inverno insuportável parecia resfriar as fibras de sua alma.
Mais duas horas passaram. Cada minuto era um ensaio de uma vida. Sammy ficou pensando consigo mesmo: "Um minuto a mais, mais um minuto. Eu ainda estou vivo. Aguente firme, Adler, mais um minuto! Você pode mantê-la longe por mais um minuto. Obrigado, D-us, por me deixar viver mais um minuto".
D-us? Quando Ele veio à cena?
Sammy se surpreendeu. Ele nunca orou em sua vida. Seus pais nunca praticaram qualquer forma de religião, mesmo que seus avós eram judeus religiosos. Sammy Adler foi criado como americano – beisebol, a torta de maçã, a marinha e nada mais.
A cobra parecia alterar a sua expressão facial de ameaça para compreensão. No minuto em que Sammy pensou em D-us, ele poderia jurar que a cobra balançou a cabeça, como se dissesse: "Você esta correto, soldado!". Naquele mesmo instante, a cobra desengatilhou sua cabeça, deu meia-volta, e deslizou para o meio da selva.
A cabeça de Sammy caiu como uma âncora de duas toneladas. Ele conseguiu sair de uma catarse e soluçar, seu corpo inteiro tremeu por uns bons cinco minutos, liberando a tensão reprimida de dentro. Ele olhou para o relógio – 1.700 horas, ou cinco horas da tarde.
Quem poderia acreditar nisso? Um fuzileiro naval dos EUA tinha acabado de ser mantido em cativeiro durante nove horas na custódia de uma cobra de nove metros. Se não fosse por seus músculos doloridos e das mordidas de sanguessuga por todo o seu corpo, ele não teria acreditado nele mesmo.
Após vários minutos de massagem nas pernas, ele foi capaz de levantar-se. Ele não tinha muito tempo, pois o anoitecer seria em menos de uma hora. As últimos nove horas foram sentidas como nove anos.
Sammy, um navegador excelente, começou a caminhar na direção do acampamento – esgotado física e mentalmente, mas vivo. Ele chegou à clareira junto ao rio, nas proximidades da posição da emboscada de seu pelotão, e recebeu o choque de sua vida: o capitão John Willis e os fuzileiros navais da Companhia C de três pelotões foram abatidos até o último homem em uma contra emboscada.
A realização do milagre atingiu Sargento Sammy Adler como uma tonelada de tijolos: O Todo-Poderoso enviou uma cobra gigantesca para fazer guarda sobre ele. Se não fosse por uma cobra, ele teria retornado para a posição de seu pelotão e teria sido abatido também. Nove horas de estresse e sofrimento inimaginável, com uma cobra mortal olhando na cara dele, acabou por ser a bênção de sua vida, uma revelação divina nas selvas do Vietnã do Sul, Fevereiro de 1969.
Por Rab Lazer Brody, via ijew
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